De Diamantina à Mariana
De bicicleta pela Estrada Real

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Sobre o sítio

A minha idéia fazendo este sítio é contar um pouco da minha experiência como cicloturista de primeira viagem. A minha intenção é que as informações que coloquei aqui sejam úteis para uma pessoa querendo fazer um caminho semelhante, e que não tenha muita experiência. Por isso busquei dar informações mais ou menos detalhadas da quilometragem e das dificuldades que encontrei em cada ponto do caminho.

Com relação ao sítio em sí, é preciso dar crédito a quem merece. Quase todo o desenho gráfico eu peguei do Why's (poignant) Guide to Ruby, que, além de ser uma fantástica peça de literatura dadaista, é um ótimo guia sobre Ruby (uma linguagem de programação).

Este sítio ainda está em construção. Principalmente a parte sobre o material que eu levei está bastante incompleta. Eu não revisei o texto, então deve haver muitos erros medonhos de português, etc. Por favor não se ofenda. Caso você queira fazer algum comentário, mande um email para rodrigo [ponto] starr [em] gmail [ponto] com. Se você não é um robô, você deve ser capaz de entender esse endereço de email.

Preparativos

Fazer uma viagem longa de bicicleta sempre foi uma idéia que me atraiu. No fim do meu mestrado percebi que teria um pouco menos de um mês de "férias" entre o momento da entrega da dissertação e a defesa. Sendo assim, decidi que esse era o momento certo, e resolvi percorrer um trecho da Estrada Real.

Apesar de sempre ter andado de bicicleta regularmente, nunca costumei andar mais do que 10 km por dia. Sendo assim, resolvi montar uma rotina de treinos diários. Começando com 10 km, iria andar todo dia, procurando aumentar a distância cerca de 10% por semana. Infelizmente, como eu tinha que terminar a dissertação, acabei não conseguindo cumprir essa rotina. Mesmo assim, após uns 2 meses de treinos irregulares já conseguia andar cerca de 50 km sem me cansar muito. Achei que isto era o suficiente.

Fiz uma pesquisa na internet e encontrei alguns sites com boas informações sobre a Estrada Real e sobre cicloturismo em geral. Em especial, o site do Walter Magalhães e o site do Clube de Cicloturismo Brasileiro foram muito úteis. Como jamais havia feito uma viagem desse tipo, utilizei muito os conselhos do guia XXXXX. Principalmente no que se refere ao que levar e a cuidados com a saúde.

O material de ciclismo que eu estava usando pedi emprestado do Cyro, um amigo meu que passou quase um ano viajando de bicicleta pelo Brasil.

28/06 - Quarta-Feira

Chegada à Diamantina

Cheguei em Diamantina de ônibus, vindo de São Paulo. A bicicleta veio encaixotada, e para transportá-la no ônibus tive que pagar uma taxa de seguro de uns 17 reais. Chegando na rodoviária, remontei a bicicleta e passei as coisas que estavam na mochila para os alforges. Achei que isso fosse dar mais trabalho.

Fui na secretaria de turismo, onde a moça me achou a pousada Ariana. Ela era boa, bem próxima ao centro, e a mais barata que ela tinha na lista dela. Este dia descansei um pouco porque estava meio doente, e saí para conhecer a cidade. Como eu pretendia começar cedo no dia seguinte, fui dormir perta das 8 e meia da noite.

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29/06 - Quinta-Feira

Diamantina à São Gonçalo do Rio das Pedras

Pela manhã fui fazer um passeio até a vila de Biribiri. No caminho passei pelas cachoeiras do Sentinela e do Cristal. Foi meu primeiro contato mais profundo com a geografia "lunar" dessa região.

Apesar de ter sido um passeio de 30 km, o passeio foi bem rápido. Cheguei de volta a Diamantina por volta das 11 e meia. Almocei, descansei um pouco e comecei a viagem de verdade. Pouco após a saída da cidade tive um problema com o bagageiro da bicicleta, mas consertei rapidamente.

Cerca de 4 km saindo de Diamantina está o Ribeirão do Inferno. Neste ponto ocorre a primeira grande ladeira da viagem: uma descida bastante íngrime de uns 3 km seguida de uma subida igualmente íngrime com mais ou menos o mesmo comprimento. Devido ao cascalho, a roda traseira derrapava muito na subida, e tive que empurrar a bicicleta. Além desta subida, após a cidade de Vau enfrentei uma subida de uns 3 km, também muito cansativa, logo antes de São Gonçalo.

A paisagem neste trecho é impressionante, talvez uma das mais diferentes da viagem.

Chegando em São Gonçalo, me hospedei na pousada Fundo de Quintal, que fica atrás do bar do Ademil, logo na entrada da vila. Paguei cerca de 25 reais pelo pernoite. Apesar do frio, os chuveiros nesta região são muito bons, pois costumam ser aquecidos a lenha. Estava tão cansado nesse dia que nem fiquei para conversar com o pessoal. Fui dormir por volta das 8 e meia da noite.

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30/06 - Sexta-Feira

São Gonçalo do Rio das Pedras à Serro

Nesta manhã fez muito frio. Eu consegui me recuperar um pouco do esforço do dia anterior, mas mesmo assim, o cansaço tirava um pouco do meu ímpeto de conhecer coisas diferentes pelo caminho. Pouco após sair de Sâo Gonçalo, enfrentei uma descida muito forte até Milho Verde. Nesta descida me descuidei e acabei caindo em um areial. Acabei ralando a mão bem no lugar em que eu apoio no guidão. Esse machucado ficou me incomodando mais uns 4 dias. A bicicleta aguentou bem a queda. Só entortou o guidão e rasgou um pouco a capa protetora dos alforges.

Por uma questão de tempo, acabei passando reto por Milho Verde, o que foi uma pena, pois é uma região muito bonita, onde vale a pena passar pelo menos um dia inteiro.

Logo após Milho Verde tem outra descida muito íngrime, e um pouco após o fundo deste vale está, próximo a estrada, a cachoeira do Carijó. Ela não é excepcionalmente bonita, mas é uma boa oportunidade para descansar e juntar coragem para enfrentar o resto da subida. Alguns quilômetros adiante, percebi que os freios da roda traseira estavam raspando, e parei para regular eles.

Um dos raios da roda traseira estava quebrado, e a roda tinha entortado um pouco. Me arrependi de não ter trazido uma chave de raios. Aproveitei a pausa para comer um pouco e descansar. Afroxei os freios e continuei subindo.

Passei por Três Barras, próximo da nascente do Jequitinhonha. É impressionante como a geografia e a vegetação mudam bruscamente de cada um dos lados do rio. Apesar da dificuldade para enfrentar as ladeiras, pois estava meio sem freio, cheguei em Serro por volta das 4 da tarde.

Em Serro fui surpreendido pela festa da Nossa Senhora do Rosário. Ela acontece sempre nos 4 dias próximos ao primeiro fim de semana de julho. Tive bastante dificuldade em encontrar pousadas, mas acabei ficando na Pousada Laura Stephany. Ela é bem nova, mas fica um pouco longe do centro. Um apartamento simples sai por 17 reais o pernoite. Com café-da-manhã.

Devidamente instalado, fui procurar um bicicleteiro para consertar a roda. No centro, achei uma bicicletaria (a única ?), mas o bicicleteiro não tinha a ferramenta para desmontar a catraca da minha bike. Mas ele deu uma regulada nos raios e desentortou a roda. E ainda me ensinou como fazer isso, caso acontecesse de novo na viagem. Desta vez comprei uma chave de raios. Por alguma razão obscura não comprei nenhum raio reserva. O conserto da bicicleta só terminou perta das 6 da tarde, então fui jantar e já fui dormir. Deixei para conhecer a cidade no próximo dia.

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01/07 - Sábado

Serro à Conceição do Mato Dentro (incompleto)

Neste dia, de manhã bem cedo saí para comprar comida e conhecer a cidade. Havia uma névoa fria sobre toda a cidade, o que dava ao centro histórico um certo ar de irrealidade. Após esse passeio e um belo café-da-manhã, montei a bicicleta e saí em direção a Alvorada de Minas. Devido ao frio e à preguiça, acabei saindo por volta das 10 e meia da manhã. Comecei a me arrepender de não ter trazido mais agasalhos e uma calça comprida para pedalar.

A estrada até Alvorada de Minas foi bem tranquila, sem grandes morros ou areais. Chegando em Alvorada, parei para almoçar um PF em uma pensão próxima do centro da cidade (o PF saiu por 6 reais). Como estava atrasado, pois havia saído muito tarde de Serro, resolvi seguir viagem direto, sem a recomendada pausa após a refeição. Me arrependí amargamente dessa pressa, pois passei o resto da viagem mais cansado que o normal.

Após Alvorada, tive muita dificuldade para continuar pedalando, e sai praticamente me arrastando pelo caminho. Pretendia chegar à Conceição do Mato Dentro, o que é uma estupidez, pois são cerca de 60 km a partir de Alvorada. O mapa que eu tinha comigo da Estrada Real não era muito bom, e acabei me perdendo um pouco. Fui seguindo pela MG-101. Como já eram 5 da tarde, e eu sabia que não conseguiria chegar à Conceição, parei na primeira vila que encontrei, que era São Sebastião do Bom Sucesso, carinhosamente apelidada de Sapo.

Cheguei a tempo de pegar os 15 minutos finais do jogo do Brasil com a França (não que valesse a pena assistir o jogo). Como não havia pousadas na vila, perguntei para alguns moradores onde poderia acampar. Me indicaram que era melhor acampar do lado da igreja, pois era mais plano. Dito e feito. Jantei na vendinha da vila, mas acabei não tomando banho porque estava muito frio (não tinha água quente na venda).

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02/07 - Domingo

Sapo à Conceição do Mato Dentro (de Combi)

Hoje consegui sair mais cedo que ontem, mas mesmo assim ainda saí por volta das 9 e meia. Choveu durante a noite, mas não o suficiente para entrar água na barraca. Cerca de 2 km depois da cidade, percebi que um dos pés-de-vela estava soltando. Parei em uma casa de fazenda para ver se eles tinham uma chave de boca de 14 mm. Não tinham, mas neste momento parou por ali uma Combi carregada de fogos de artifício queimados, vinda de um show em Serro. Eles perguntaram se eu não queria carona até Conceição, onde poderia concertar a minha bicicleta. Aceitei imediatamente, até porque estava muito cansado. Em menos de uma hora percorremos os 15 km que separam Sapo de Conceição.

Em Conceição encontrei um bicicleteiro que consertou o pé-de-vela. Resolvi que iria tirar este dia de folga, sem andar absolutamente nada de bicicleta. Me hospedei na Pousada JK. Passei toda a tarde deitado, lendo. Apenas perto do por do sol saí para dar um passeio pela cidade e achar um lugar para comer. Estava ficando um pouco preocupado pois me restavam apenas 150 reais, e eu não tinha encontrado nenhum banco Real até o momento.

Dormi por volta das 8 e meia da noite.

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03/07 - Segunda-feira

Visita à cachoeira do Tabuleiro

Hoje acordei recuperado. Realmente valeu a pena ficar um dia parado. A programação para hoje foi visitar a cachoeira do Tabuleiro, que se encontra no distrito do Tabuleiro, a uns 20 km de Conceição. Este dia consegui sair cedo, mais ou menos às 8 da manhã. Estava muito frio e havia muito névoa.

Cheguei em Tabuleiro quando ainda havia bastante neblina. Um pouco antes de chegar à cidade percebi que o cubo do pé-de-vela estava fazendo barulho e dando uns trancos de vez em quando. Pouco depois um pneu furou. Tirei o pneu, achei o furo e remendei. Andei mais uns 3 km em direção à entrada do parque e o pneu murchou de novo. Desta vez não achei o furo e resolvi substituir a câmara pela câmara estepe. Ela estava furada! Nunca mais compro câmara de baixa qualidade. Coloquei a câmara antiga de volta e enchi bastante, torcendo para que ela demorasse mais um tempo para murchar. A brincadeira toda durou quase uma hora.

Chegando ao parque, é preciso pagar uma taxa de entrada de 5 reais. Como já estava meio tarde e eu queria chegar à cidade antes das 6 para ver o problema com o pé-de-vela, resolvi fazer apenas a trilha do visual da cachoeira, sem ir até a sua base. Até porque estava muito frio para entrar na água.

Na volta, o pneu continuou murchando, até eu parar próximo à um córrego de água e ficar quase meia hora procurando o furo. Era um remendo antigo que estava vazando um pouco. Consertei o remendo. O pneu não deu mais problema até o fim da viagem.

Chegando de volta em Conceição, passei no bicicleteiro. Ele disse que o rolamento do meu pé-de-vela estava com uma das esferas amassadas, mas isso não devia dar muito problema. Resolvi continuar a viagem com ele desse jeito mesmo, até porque ele não tinha nenhum rolamento igual para trocar.

Nessa noite, antes do jantar, passei em um posto de gasolina e consegui "sacar" dinheiro. Paguei 3 reais para o frentista fazer uma "venda" no cheque eletrônico para mim. Agora estava tranquilo.

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04/07 - Terça-feira

Conceição do Mato Dentro à Morro do Pilar

Já bastante descansado, pois ontem não precisei andar com as malas, saí em direção à Morro do Pilar. O caminho estava bastante tranqüilo e muito bonito. Tem uma vista muito bonita de um chapadão ao longo da maior parte do percurso.

Neste trecho a estrada Real estava mais bem sinalizada que nas proximidades de Conceição, mas haviam alguns totens caídos no chão, e tive que perguntar em alguns lugares.

Inicialmente, não pretendia dormir em Morro do Pilar, mas, pouco antes de chegar ali passei por um buraco muito forte e quebrei mais dois raios da roda traseira. Como eu não tinha raios reserva, acabei tendo que parar na cidade para comprar.

Só tinha um lugar que vendia raios, e eles não tinham raio tamanho normal, apenas dos mais grossos. Estes não serviam na minha bicicleta. Fiquei sabendo que neste dia o dono da loja estaba em Belo Horizonte fazendo compras e que chegaria perto das 6 da tarde, trazendo raios normais. Conclusão: pernoitei em Morro do Pilar. No fim das contas, foi uma boa decisão, pois descansei bastante e pude aproveitar mais o caminho no dia seguinte.

Fiquei hospedado na pousada Recanto, perto da igreja principal. O pernoite foi cerca de 10 reais. Foi uma das pousadas mais interessantes em que dormi.

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05/07 - Quarta-feira

Morro do Pilar à Senhora do Carmo

Acordei bem disposto, e consegui sair relativamente cedo (8 e pouco da manhã). Como sempre, havia uma neblina fria e espessa. Os primeiros quilômetros da estrada para Itambé são margeando um rio, e depois ela continua relativamente tranquila, sem grandes subidas e descidas.

O trecho que eu percorri neste dia passava "por trás" do parque da Serra do Cipó. Apesar de longo (não tem nenhuma vila nos 35 quilômetros entre Pilar e Itambé), o caminho foi mais fácil que nos dias anteriores. Não se se porque foi um dos lugares mais bonitos por onde passei, se porque pela primeira vez fez sol a maior parte do dia, ou se porque eu já estava me acostumando.

O fato é que hoje foi um dos pontos altos da viagem. A única dificuldade que a estrada apresentou foram aluns areiais meio grandes. Um deles tinha cerca de 200 m.

Chegando à Itambé, como ainda eram 3 e meia da tarde, decidi seguir até Senhora do Carmo. Em Itambé ví pela primeira vez uma placa turística dentro da cidade informando sobre a Estrada Real. Na placa estavam um mapa da cidade, informações básicas como número de habitantes, e trilhas e caminhos para cachoeiras e vilas próximas.

A estrada de Itambé até Senhora do Carmo é muito tranquila e bonita. Uma boa parte do trecho é a descida da Serra da Lapa, que é de tirar o fôlego (de bonita).

Chegando em Senhora do Carmo, fiquei na pousada XXXXX, onde fui excepcionalmente bem recebido (mesmo para os padrões mineiros, que já são altos). Aí, conversando com a dona da pousada enquanto comia um delicioso biscoito de polvilho, fiquei sabendo que tem um caminho alternativo de Pilar até Itambé que passa pela vila Cabeça de Boi, que é ainda mais bonito (e um pouco mais difícil). Descobri que para conhecer bem essa região precisaria de pelo menos uns 4 dias. E pretendo voltar para lá.

Esta noite fui dormir um pouco mais tarde (umas 10 horas da noite). Mas estava feliz e descansado.

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06/07 - Quinta-feira

Senhora do Carmo à Barão de Cocais

O meu objetivo neste dia era percorrer uma grande distância, para tentar chegar em Mariana no sábado. Sabia que após Bom Jesus do Amparo eu poderia pegar um trecho de asfalto, e imaginava que isso seria uma enorme vantagem.

Mas antes, ainda na terra, passei por Ipoema. Alí visitei o museu do tropeiro, que foi muito interessante. Alí é possível ver como era o modo de vida dessas pessoas que levavam até 6 meses para ir do litoral até Diamantina carregando cargas, ou voltavam carregando ouro e diamantes. Após uma semana percorrendo essa estrada, é muito impressionante ver como ela era utilizada.

Apesar da visita ao museu do tropeiro ter sido muito interessante, acabei ficando mais tempo lá do que planejado. Sai "correndo", e enfrentei uma estrada muito tranquila até Bom Jesus do Amparo. Alí, após um lanche em uma padaria, segui pelo asfalto para Barão de Cocais.

Apesar de eu realmente andar bem mais rápido no asfalto, não vale a pena o risco. As estradas não tinham acostamento e o trânsito era pesado. Em Bom Jesus começa a região de mineração mais intensa, então tem muito tráfego de caminhões pesados.

Mesmo assim, estava decidido a chegar a Barão de Cocais. Eram 4 horas quando saí de Bom Jesus, e pretendia percorrer esses 30 km em 2 horas. No máximo, chegaria alí um pouco depois do por-do-sol. Foi um grande erro. Acabei demorando quase uma hora a mais que o planejado, e tive que andar na beira da BR, a noite, sem lanterna e com o acostamento todo quebrado e cheio de buracos. Mesmo assim, apesar dos sustos, cheguei em Barão de Cocais.

Alí descobri que nenhum dos hotéis da cidade tinha vaga. Também me informaram que a cidade era um pouco perigosa, e era melhor não acampar próximo a cidade. Quando eu já estava quase sem saber o que fazer, entrei na pousada Pato Preto XXXXX, onde a dona, a senhora XXXXXX, me deixou pernoitar na área de serviço. Ainda hoje isso me parece inacreditável. Para caber eu mais a bicicleta nas áreas comuns do hotel foi uma bagunça razoável, ainda mais porque eu e a bicicleta estávamos todos cobertos de pó. E ela ainda me ofereceu café da manhã!

No fim das contas, por causa da dificuldade em encontrar hotéis, acabei indo dormir quase à meia noite.

07/07 - Sexta-feira

Barão de Cocais à Santa Rita Durão

Nesta manhã ainda tentei seguir pela BR até Santa Bárbara. Chegando lá, desistí completamente, e voltei para o caminho tradicional da Estrada Real. O caminho de Santa Bárbara até Catas Altas é muito interessante, e acho que é o mais fácil de se perder. Tem muitos trechos em que é preciso passar por entre as fazendas, e até um trecho por dentro de um pasto que é impossível de se fazer de carro. Precisei parar para pedir informações algumas vezes, pois a marcação era meio deficiente. Inclusive, houveram vezes em que não havia ninguém por perto para dar informação.

A serra do Caraça domina todo o caminho até Catas Altas. Uma das decisões tristes que eu tive que tomar por falta de tempo foi não visitar o Caraça.

No meio do caminho para Catas Altas me deparei com uma ruína de algo que parecia ser um aqueduto. Foi uma das coisas mais impressionantes da viagem. Depois fiquei sabendo que este aqueduto se chama "Bicame de Pedra", e tinha originalmente 18 km.

Chegando em Catas Altas, que é muito simpática. Quase toda a cidade trabalha para a Vale do Rio Doce. Lanchei em um bar na praça central, descansei um pouco e depois segui até Morro D'Água quente. Minha intenção era chegar pelo menos até Santa Rita Durão, assim poderia chegar a Mariana no dia seguinte antes do almoço.

Eu precisava chegar antes do almoço para poder comprar umas lonas para empacotar a bicicleta para a viagem de volta. As companhias de ônibus normalmente não deixam levar uma bicicleta inteira no bagageiro. Também não pretendia dormir em Mariana pois era época do festival de inverno, e provavelmente não teria vagas nos hotéis baratos.

Acabei chegando em Santa Rita perto das 5 e meia. Descobri que não havia pousadas na cidade, e acampei do lado de um campo de futebol, um pouco afastado da cidade. Esta cidade é basicamente dormitório de mineiros, então às 6 da tarde e às 6 da manhã o movimento de ônibus é muito intenso.

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08/07 - Sábado

Santa Rita à Mariana

Acordei por volta das 6 e meia da manhã e fui tomar café na padaria do centro da cidade. Depois tentei espantar o frio, que havia sido intenso à noite, e segui viagem. O caminho a partir de Santa Rita não é tão interessante, por causa da mineração. Mesmo assim, a vista da névoa encobrindo o fundo dos vales e das torres da igreja de Camargos aparecendo no meio da mata é impressionante.

A estrada foi muito tranquila e bem marcada. Cheguei em Mariana mais rápido que eu imaginava, e fiquei tentando achar uma caixa grande o suficiente para guardar a bicicleta. Como não consegui encontrar, passei em uma loja de materiais de construção e comprei um corte de lona preta de construção e um rolo de fita adesiva. Foi o suficiente.

Fui para a rodoviária, "empacotei" a bicicleta e guardei ela no maleiro. Depois fui procurar algum lugar para tomar banho, pois não tinha tomado no dia anterior e não estava em condições de passar uma noite inteira no ônibus. Paguei 5 reais pelo banho em um hotel. Depois fui andar pela cidade, enquanto não se aproximava da hora do ônibus.

Finalmente, fui para Belo Horizonte e peguei um ônibus direto para Araraquara.

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Conclusões

A primeira coisa que percebi na viagem é que precisaria ter treinado mais. Apesar de eu ter conseguido percorrer o caminho sem grandes problemas, não foram poucas as vezes em que eu me perguntei o que estava fazendo alí, e se realmente a viagem estava sendo divertida. Penso que uma viagem deste tipo tem menos a ver com superação física e mais com um modo diferente de percorrer um caminho, mais lento porém mais minucioso e próximo das pessoas. Mesmo assim, um certo nível de cansaço faz parte. Acho que isso faz com que você olhe para trás e observe o horizonte de um outro modo, consciente de que no começo do dia você estava em um lugar que a vista não alcança mais, ou que se tornou apenas um ponto em uma encosta de uma montanha distante.

Uma outra coisa que aprendi nesta viagem é que não vale a pena ter uma bicicleta muito cheia de frescuras. Quando ela quebrar, você vai estar na mão, porque você não vai achar nem peça de reposição nem mecânico para consertar. Da onde se conclue: use peças boas, mas simples e saiba consertar sua própria bicicleta. Por sinal, era um sensação de liberdade muito grande quando a bicicleta quebrava, eu tirava a caixa de ferramentas da mala e em meia hora estava andando de novo. Isso aconteceu logo no segundo dia, quando a roda entortou e eu tive que abrir mais os freios.